Espelho ambíguo


Mostre-me algo distinto
Deste espelho ambíguo,
Que reflete estas minhas tristezas e alegrias,
Que me rebaixa e exalta.

Eu estive pensando no amor
Que não me move, não me muda,
Surjo então com meus pensamentos nus,
Para que caia em verdade este anseio que sempre foi claro,
Esta voz que soa, sem disfarces, do fundo do meu coração.

Perceba, ó felicidade,
Que enquanto tantos te desdenham, eu te quero.

E enquanto eu corro pra este destino louco
Rebaixo as guardas, as muralhas,
Pra que venha da forma que for
Embriagar-me de felicidade.

E que estes versos, dispersos e sem rima,
Possam, um dia, fazer o sentido
Que meu coração sempre procurou.




(não sei se posso dizer que "bateu a inspiração" porque estes versos quase não fazem sentido nenhum pra quem o lê) Após um bom tempo, voltei a escrever. E vamos torcer pra que a faculdade me dê de presente umas folguinhas de vez em quando.

Uma criança com seu olhar


Encontrei a paz nos olhos de uma criança. Não pude deixar de notar. Era ofuscante a energia que transmitia enquanto me fitava. Nos desencontros e correrias do meu cotidiano encontrei-a, e não pude sair dalí antes de contemplá-la.
Nos primeiros minutos eu nem si quer lembrei-me do terno caro que vestia devido à reunião, não me importei com a pasta cheia de documentos que carregava com cuidado, simplesmente me acomodei na areia do parque e não deixei de olhar aquela criança.
Teus pés descalços afundavam na areia enquanto corria entre as outras crianças. Aos poucos fui aprofundando na imagem que via e notei que as outras crianças olhavam-na diferente, mas aquela doce criança, em sua total inocência, nem percebia.
Ela ia perceber. Conforme passasse o tempo, conforme o mundo lhe roubasse a inocência. Quão cruel, pobre criança. Tuas vestes curtas e gastas condenavam sua posição social, talvez fosse ela uma daquelas que não encontra o carinho em casa, mas sim num parque com outras crianças que tem de tudo, mas que falta a simplicidade, como a que ela possuía.
Teus olhos brilhavam e sua cor negra trazia destaque. Imaginei então quanto tempo levaria para que esta criança fosse arrumar trabalho pra ajudar em casa, ou perdesse seu pai para as drogas, ou se visse lutando pra conquistar uma vida digna e se visse sendo barrado em muitas injustiças que enfrentaria devido a sua cor. E depois de tanta luta, se encontraria escravo de uma sociedade hipócrita.
Fechei os olhos enquanto lagrimas corriam pelo meu rosto. Foi quando senti um toque leve secando minha face. Era as mãos pequenas daquela criança que me acolhia com um sorriso mágico. Na verdade aquela criança nada mais era que meu reflexo, a minha história, quando eu não mais me reconhecia.

Amantes de guerra


Esta estrada não parece a mesma da qual bailávamos entre pernas bambas à luz da lua, após doses inteiras de uísque. Teus olhos rasos se tornaram profundamente obscuros. Eu nem mesmo sei onde exatamente nos afastamos, na faculdade ou neste casamento furado.
As fotos revelam o quanto um dia nos amamos. Nelas estão guardadas as lembranças da faculdade, da qual apesar de estúpida, eu só resolvi fazer por sua causa. Intervalos inteiros você me provocava até terminarmos no “achados e perdidos” fazendo amor.
Era tempo de guerra, revolução. Éramos aqueles que entravam em conflito com os militares, fingíamos estar bêbados enquanto bolávamos algo contra a imposição do governo militar. Brincávamos com o perigo enquanto a adrenalina nos impulsionava a ir mais longe, a ousar.
E então, meu bem? Onde nos perdemos? Teus olhos não brilham mais como em tempos de guerra. Talvez o que movia nosso amor era aquela sensação extasiante de se amar mesmo na dor, mesmo que o país quisesse aprisionar as paixões e os pensamentos.
Este pó e silencio que se alastrou no ar após o fim de tudo, também nos esfriou. Podíamos ser bem mais do que somos agora, amantes presos a um passado memorável.