No que acreditar? Onde buscar?
Ela preenchia linhas e linhas sem se satisfazer, alimentava o ego de besteiras
e ilusões que todos tentavam entender ou ao menos fingiam. Uma dose de
sofrimento engolia em seco todos os dias e enaltecia sua dor. Vivia fazendo
alusão ao amor, escrevia poemas, como quem conhece profundamente, como quem já
teve um caso com tal sentimento. Ela mentia para si mesma todos os dias quando
dizia que, tal amor já lhe fizera sofrer. A verdade é que ela nunca nem si quer
passara mesmo por tal situação capaz de deixar cicatrizes visíveis em seu peito,
pois antes mesmo de acontecer, ela já rompia o inicio. Destruíra as pontes e se
ilhou por vontade própria, pensou ser forte, firme e na verdade apenas enfraqueceu
os anticorpos, as barreiras, as proteções. De tanto se privar tornou-se frágil,
e de tão frágil não sabia mais como se expor, perdera o jeito com as coisas, a
vida, os relacionamentos.
Todos os dias ela sente falta do
que não foi, do que poderia ter acontecido se tivesse dado a chance a si mesma.
E como em dias passados ela repete tudo de novo, como uma rotina de quem se pune,
de quem se lamenta. E todas as lágrimas continuam a embaçar teus olhos e ela
comete os mesmo erros, continua a relembrar os mesmos fatos tristes. E só agora
percebeu que anda em círculos, e o caminho já está marcado, é sempre o mesmo.
Ela sabe exatamente onde errou.
Colocou o amor num pedestal e sempre achou não estar, ainda, a altura de tal
sentimento. Ela sempre acreditou que chegaria a hora, mas tudo foi tão
planejado que quando finalmente era pra acontecer, quando o amor lhe escolhera,
ela de tão assustada congelou-se e ao invés de dar o passo adiante ficou ali
parada, observando enquanto ele de tanto esperar, desistira.
Havia se acostumado a apenas
observar, a ser egoísta o suficiente, a ter medo do amor das outras pessoas por
ela. O amor sempre a assustava mesmo ela o desejando mais que todos os demais
ideais. Por mais que quisessem salva-la, não permitia. E de tanto viver daquele
modo se acostumara. As pessoas perguntavam, “onde se encontra o amor em sua
vida? Você não sente falta?”, e as mesmas respostas ensaiadas eram ditas todas às
vezes. Para poucos lamentava e ainda sim estes poucos não podiam compreender.
Era livre para amar, para sonhar, para descobrir, mas ela mesma se privara de
tudo.
A saída ainda era a mesma e ela
sabia o que te salvaria. Sua vontade era dar logo a dica, botar a mão no fogo
por algum herói que não temesse a obscuridade que ela carrega no peito, que
percorresse milhas e milhas destas infinitas estradas sem se importar se nunca
a conhecesse totalmente. Mas ela sempre foi cruel com quem quis, ela sempre
desencorajou o destemido, destruiu as esperanças com frases como “apenas o
quero como amigo”. A culpa era dela, e ela sabia... Sabia a ponto de encher os
olhos de lágrimas e colocar o mesmo sorriso de quem é feliz todos os dias... E
andar em círculos como sempre fizera.
Ela precisava de alguém que
ignorasse o que saia de sua boca e a amasse fielmente. Mas por onde anda este?
Por que não a tira logo, por que não a salva? ...Mas quem se interessaria...?
Ana Paula Ribeiro