The pain of goodbye


"Você me deu todo seu amor e tudo que eu te dei foi adeus."

A voz mansa me acordava carinhosamente e a dor que se alastrou durante dias havia cessado. Eu olhava aqueles olhos negros enquanto tuas mãos afagavam meus cabelos. Era doce, singelo. Eu havia o esperado durante todos os dias de minha vida e agora que o tinha não importavam mais as pessoas. Mas devia suspeitar e é verdade, eu suspeitei. Fora fácil demais. Chegou de repente e me completou. Chegou cedo e eu esperava que viesse um pouco mais tarde, quando anoitecesse a vida, quando os planos estivessem todos  executados, quando o mar acalmasse para ver minha metas todas atingidas. Preparei-me para te encontrar um pouco mais futuramente, quando necessitasse deste amor tranqüilo para completar os dias. E viera assim, mesmo que a solidão me fizesse chorar por alguém, viera cedo. Talvez fosse eu egoísta demais. Talvez esta fosse minha única chance de ser amada, talvez eu não fosse conhecer nunca mais alguém como você. Mas eu já nasci preparada para despedidas, sempre andei com uma mala com todos meus sentimentos, prestes a abandonar as pessoas e a mim mesma. Ou talvez, esta ultima frase que acabou de ler fosse apenas uma mascara muito bem elaborada, com traços que digo serem meus, sorrisos e expressões marcantes. Estou pronta para deixar-te ir, pois acho injusto te prender dentro de uma gaiola e simplesmente te soltar quando eu estiver pronta. Não seria honesto de minha parte. E eu sei que disse que me esperaria o tempo que fosse preciso, mas não quero ser tua droga, não quero que me trague e se vicie mais e mais em mim, enquanto lentamente roubo tua vida e teu coração. Não quero fazer parte do sangue que te deixa vivo, pois eu fui doce até hoje, mas tenho medo até mesmo da quão traiçoeira poderia me tornar ao te ver dependente de mim e cego de amor. Por isso, acho que veio cedo, e meu amor ainda não está maduro para aceitar-te como parte de mim. Pois não fui feita com total sabedoria, sou humana errante, que precisa aprender a compartilhar a si mesma, doar, preencher as lacunas com o que um alguém tem a me oferecer, e assumir que necessito desta atenção que só o amor tem a proporcionar. Mas ainda visto estas roupas invioláveis e esta proteção fortemente blindada que envolve a alma frágil que possuo. E você, com teus olhos negros e fala mansa quase me desarmou. Verdade! Quase me perdi inteiramente a você e ao chegar perto demais de lançar-me em teus braços, descobri que era cedo. Perdoe-me. Eu não posso roubar o que lhe resta de mais singelo, este coração que pulsa por mim. Eu não posso ser teu tudo, não posso ser tua motivação. Já basta eu pra me chatear e enganar. Deixo-te ir enquanto choro e tento desatar este nó na garganta que me faz crer que talvez eu esteja cometendo um grande erro. Digo-lhe palavras cuidadosamente escolhidas, mas que eu sei que atormentarão teus dias e te causarão dor. Digo a verdade (ou talvez minto), mas sei que é preciso, pois algo antecipadamente me conforta, talvez seja esta velha frase de que “se for pra ser, será” ou este teu cheiro de amor que me trará lembranças saudáveis. Ou um futuro que de tão maluco, nos dê uma outra chance.



- Come up to meet you, tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are   ♫


Eu sei, meus últimos textos mais parecem continuações. Mas isso termina por aqui (eu acho).

Ironias do amor


Encontraste o amor, mas nunca pensou que seria tremendo caos. Não ele e sim as pessoas. Ela sonhou tanto, se preparou tanto, e no fim o grito estridente de alegria falhou. Tua voz era esquecida pela razão. Se estavam certos ou não ela não sabia, talvez estivessem, mas falhou. Quando enfim encontrou teve que se contentar em deixá-lo ir. Mesmo com lágrimas nos olhos, mesmo arrependida, mesmo com o coração em pedaços ensangüentados. E todos queriam que ela continuasse a sorrir. Quanta ironia. Tua face deixara a muito tempo de corresponder aos seus sentimentos, não havia quase nenhum elo. E então ela sorria com tremendo nó na garganta, com a dor eterna de uma apaixonada. Cortaram-lhe as asas e queriam que continuasse a voar.

E ele não fora tão longe, também se contentou em tê-la apenas na memória, se contentou em ser chamado de amigo, talvez para vê-la bem, para não atrapalhar. Teus olhos choravam enquanto sorria. Ele seria apenas amigo, mesmo que lhe doesse a alma, mesmo que fosse eterna a espera. Pois ela pedira que não criasse mais caos, mesmo que não fosse sua vontade, e ele atendeu. Indignava-se completamente com o mundo e não compreendia o porquê de impedi-los de ser o amor da vida um do outro, mas respeitava-a, pois amava.

Mas nenhum dos dois estava inteiramente feliz. Apenas o que lhes dava esperança era o futuro, a possibilidade de voltarem e nunca mais se largarem. Mas o futuro estava distante e mais distante ainda eles. Apenas o que os unia era o coração, e este, interferência mundana nenhuma poderia desfazer o que sentiam.

E é no silêncio da noite, na reflexão que a escuridão os leva, era aí que eles mais se amavam.

E ela ainda pensava nele.
E ele se entristecia por não tê-la.
E o mundo... Bom, ele acha que está certo em separar estes dois.

...Mas não por muito tempo, pois o coração não gosta de esperar, e muito menos o destes dois.