Bete, logo que recebeu o telefona, se encaminhou ao hospital, e foi convidada a aguardar na sala de espera. Haviam muitos repórteres ali e nem ao menos tinha lugar para sentar-se. Ficou de pé, pegou uma revista enquanto pensava, porque há tantas pessoas, justamente neste hospital, que sempre foi tão calmo?. Logo que o Doutor chegou, todos aqueles repórteres levantaram-se em alvoroço e foram ao seu encontro, muitas perguntas foram feitas a ele, porém Bete apenas prestou atenção quando seu nome foi chamado:
- Senhora Bete. - todos aqueles repórteres viraram-se para ela, encarando-a. - Poderia me acompanhar?
Bete acompanhou o Doutor até o quarto onde seu filho se encontrava, e de repente, passou por sua mente que todos aqueles reportes estivessem ali pelo seu filho. Seu coração disparou. Apenas ficou mais tranquila quando seus olhos encontraram os olhinhos brilhantes de Samuel que disse eufórico, Mãe! Ela deu um abraço apertado nele, e percebeu que haviam muitos médicos no quarto. Teu coração se sentiu inseguro novamente.
- Senhora Bete. Hoje, pela manhã, encontramos uma nova forma de fazer a cirurgia em seu filho...
Enquanto os médicos explicavam, Bete prestava toda a atenção. Perguntou sobre os riscos e o tempo de cura.
- Esta cirurgia é nova Sra Bete, e foi realizada apenas seis vezes em todo o mundo. Duas crianças faleceram durante a cirurgia, e uma, duas horas após. As outras três crianças que resistiram à cirurgia, demoraram quatro meses para se recuperarem completamente. Há 50% de chances de que Samuel se recupere, assim como há a outra metade de risco mortal.
Bete se sentiu aflita pelo percentual balanceado. Pediu para ficar alguns instantes a sós com Samuel. Logo que os médicos se foram, sentou-se na cama, enquanto Samuel retirava um desenho da gaveta ao lado de sua cama. Entregou a mãe.
- Pegue mamãe, este é um desenho, que eu fiz pra você. Obrigada por estar torcendo por mim, assim como papai.
Bete se emocionou ao ver o desenho. Era ela, com um terço azul entre os dedos ao lado da cama de Samuel, e Santoro, seu falecido marido, sobre as nuvens também com um terço nas mãos.
Ela o abraçou forte, enquanto as lágrimas transbordavam de seus olhos.
- Será que papai seria capaz de pedir pra Jesus não deixar eu morrer? Seria muito legal da parte dele, não é mamãe?
- É filho, tenho certeza que ele pedirá sim.
Sentiu um dor em seu peito acompanhada de lembranças de Santoro, e o quão ruim foi perdê-lo. Os médicos voltaram e ela, juntamente a Samuel, autorizou-os. Ao sair do quarto, muitos olhos curiosos encararam-na, porém nenhum foi ao seu encontro. Os médicos devem ter pedido que não me incomodassem. Foi lhe oferecido um quarto para que pudesse descansar enquanto aguardava pelo término da cirurgia, ela aceitou, já que se encontrava extremamente esgotada, porém a preocupação foi tanta que, naquela noite, mal conseguiu dormir. Por muitas vezes o desânimo passou por sua mente, tomara que Santoro tenha pedido à Deus com carinho que cuidasse de nosso filho.
Foram longas seis horas de cirurgia, até que uma enfermeira chamou-a, para que fosse até o quarto de Samuel. Ela sentiu seu coração bater forte, e a simples chance de chegar no quarto e ver seu filho morto a fez estremecer. Logo que chegou ao andar, o cirurgião se encontrava na porta. Bete apressou o passo e pode ver um sorriso formar-se na face daquele médico.
- Senhora Bete, a partir de hoje, aumentamos a porcentagem positiva da cirurgia, e fomos o primeiro hospital brasileiro a realizar este procedimento cirúrgico com um resultado positivo. Houve um avanço na medicina brasileira e seu filho fez história como o primeiro garoto a sobreviver neste procedimento.
Seu rosto se iluminou, e adentrou eufórica no quarto. Samuel estava ainda sobre os efeitos da morfina, e ao vê-lo bem, Bete chorou de alegria.
- Mamãe, papai fez um belo trabalho, torceu muito por mim juntinho de Deus.
A imagem de Santoro a sorrir se fez, quase transparente ao lado da cama de Samuel. Bete sentiu um arrepio correr por seu corpo.
- Sim querido, papai torceu por você.
E sorriu de volta para o espírito de Santoro.
Texto ficitício escrito por mim, para a 74º edição musical e a 73º Edição Conto/história do projeto Bloínquês. Ficou grande, mas eu gostei muito.
Notas: Edição Conto/história:9,66 ; Edição Musical: 9,80