#1 confession

Eu sentei-me na poltrona azul enquanto uma nova camada protetora se projetava ao meu redor. Tentei esvaziar a cabeça de todas aquelas interrogações que me atormentavam, me destruíam. Lentamente me deitei e um flash se passou em minha mente... Todos os outros, aqueles que eram felizes, que possuíam amores recíprocos, que tinham alguém para proteger, foram passando, um a um por minha cabeça, até que encontrei alguém me olhando, por de trás das lembranças, ele nem se quer me conhecia, ele nem se quer sabia como lidar comigo, e como todas as outras vezes, ele sumiu, removendo minhas auto proteções, como todos os outros. Senti-me frágil, e tentei afastar toda aquela dor. Levantei e olhei pela janela entre aberta, percebi que alguns passavam do outro lado da rua, e outros, cochichavam enquanto me olhavam. Perdi o rumo, fechei a janela e todas as portas de acesso. De vez em quando, alguns ruídos se faziam na porta da frente, mas eu não ouvia, eu estava perdida, dentro de mim mesmo. Senti falta de alguém para estar ali, pra dizer que ia me proteger, mesmo que fosse apenas para me iludir. Uma gota gélida escorreu de meus olhos, até que eu soube que não devia estar ali. Levantei-me e escovei meus cabelos, tentei disfarçar as olheiras, e enfrentei mais um dia. De cara limpa, e sentimentos trancafiados, dei de cara com a realidade novamente, mesmo que minha vontade fosse continuar lá dentro, sozinha.

Incógnita
23/02/2011

Confissão número 1.

A garoa molhava a ponte e eu olhava para o rio, deixando suas lembranças me enlaçarem e satisfazerem meu coração... E, eu pude sentir ao longe que ele vinha, eu simplesmente sabia. E então, quando virou a esquina e direcionou seus olhos a mim, senti então correr um arrepio do qual desconhecia, meu coração estava elétrico ao vê-lo, batia descontroladamente, e meus olhos apenas viam-no, e mais ninguém.
Não havia explicações concretas para isso. Quando eu não estou com você, é como se eu não estivesse comigo, o tempo se torna lento, as horas se tornam vagas, e toda a interação do mundo não pode me fazer te esquecer, nem por um só segundo.
Enquanto veio em minha direção, todos os relógios pararam, as pessoas sumiram, e apenas teus passos lentos puderam fazer algum sentido naquele momento. Eu estava paralisada.
- Oi, você está bem? – ele me olha sorrindo.
E eu, desperto do meu sonho pra que finalmente possa vivê-lo.
- Claro! O que faz aqui? Não devia estar visitando seus avos hoje?
Ele sorri, e abaixa os olhos.
- Eu menti pra você!
Sinto uma onda correr meu corpo, e meu rosto ficar vermelho. Fico em meio a dúvida e a decepção, sinto minha pulsação diminuir, e meu sorriso se desfazer.
- O... O que? Onde... Você foi? – e olho bem nos olhos dele.
Ele retirou uma caixinha do bolso.
- Fui comprar a aliança pra minha futura esposa. – Ele se ajoelhou aos meus pés – Quer se casar comigo?
- Eu.. eu..  – pude sentir as lágrimas percorrem meu rosto, e de imediato, sem respondê-lo, o beijei, deixando que nossos lábios falassem por mim.
Parei e respirei um pouco.
- Claro que eu quero!
E as lágrimas dele se misturaram as minhas e a noite se tornou eterna, ao lado dele.
Eu não sei dizer bem ao certo, qual é a intensidade do sentimento que me faz parar a vida por ele, é algo mágico, sincronia perfeita, enlaçados pelo destino. E agora seriamos sim, eternamente, o amor um do outro.
Texto FICTÍCIO, escrito para a 57º Edição Musical e 57º Edição Visual do Bloínquês.

Contratempos

Há dias em que queremos esperar, simplesmente folgar nossas vidas, e ver o que o destino tem pra nós. Mas na maioria das vezes não queremos assim, queremos agilizar as coisas, os momentos, os relacionamentos. Temos sede de felicidade, o que nos faz atropelar horas para se tomar o melhor caminho. Ficamos ansiosos a semana inteira pelo encontro de sábado a noite, ficamos preocupados e acabamos contagiando aqueles ao nosso redor por um aumento no trabalho, nos tornamos maquinas planejadoras o ano inteiro pela viagem em dezembro. Sempre queremos correr, queremos adiantar o relógio, queremos atropelar momentos e dias por uma determinada ocasião. O único problema é quando tudo não sai como planejamos, e então, desmoronam-se as vontades de insistir da próxima vez, enfraquece a ansiedade, e quando formos entrar novamente em um campo de batalha, restará a duvida se daquela vez irá dar certo, além do medo, de darmos tudo de nós e não adiantar nada. Talvez não seja assim com todas as pessoas, muitos são os que conseguem continuar independente do tombo, muitos tem o dom de ofuscar o medo em determinados momentos da vida e não permitir que ele atrapalhe, muitos são os fortes. Porém há uma grande parte que sofre, que se fecham depois de um relacionamento mal acabado ou um emprego recusado,  existem muitos fracos, muitos que se preparam para que saia tudo certo, mas se esquecem que tudo pode também dar errado. Muitos correm, planejam, atropelam momentos para se atingir um ponto que acha importante, mas nunca está preparado para o inesperado. A ânsia para se chegar a um dia determinado momento é comum, porém é preciso estar preparado para os contratempos, sempre.
Ana Paula Ribeiro

Não sei se consegui me expressar bem, espero que tenham conseguido entender o fundamento do texto. Beijos.

Thinking Of You


Eu estava ali, e ele a acariciar-me. Eu podia ver através dos olhos dele o quanto amor podia me dar, o quanto podia me fazer feliz. Eu o permiti provar que poderia me fazer te esquecer, mas é impossível. Eu tento estar com ele, mas minha mente encontra você, e começa a fazer perguntas, “onde será que ele está agora?”. Quando ele me toca eu fecho os olhos, e realmente parece que é você ali, e relembro nossos momentos juntos, o quanto eu fui feliz, mas quando volto a realidade, olhos para os lados, e não te encontro.  Um sentimento de culpa me vem, pois quando estou com ele eu penso em você, em nós, e não há nada que eu possa fazer, nada. É automática estas minhas recaídas, e não vejo outra forma. Vou deixar que as lembranças me toquem, pois é você que eu amo, e não posso mudar isso.
Ana Paula Ribeiro

(...)
Porque quando eu estou com ele
Eu estou pensando em você
Pensando em você
O que você faria se
Você fosse aquele
Quem estava gastando a noite
Oh! Queria que eu
Estivesse olhando nos seus olhos.
(Trecho da música Thinking of You da Katy Perry)

texto ficticio inspirado na canção da Katy Perry.

O Ultimo Dia


Levantei-me delicadamente, e notei que estava só naquele recinto, e então percebi que meu dia havia chegado. Preparei o café como se tudo fosse o ultimo. Após tomá-lo, não me preocupei em fazer os afazeres de casa. Coloquei minha camisa azul que havia ganhado de mamãe no meu ultimo aniversário que ela esteve presente, e minha bermuda jeans que minha esposa com tanto carinho havia me dado. Sai pela porta da sala e sentei em uma daquelas cadeiras de balanço. Fiquei a observar tudo ao meu redor de modo que nunca tinha parado para observar. Tudo parecia mais verde agora, as plantações, os pastos, as flores. E o estabulo, a quanto tempo eu não ia lá? Levantei-me e percebi que me encontrava mais disposto do que nunca, mesmo estando com 74 anos. Cheguei ao estabulo e avistei cinco ou seis de meus cavalos de corrida a brincarem uns com os outros. Me aproximei a fim de melhor admirar aquele ultimo momento que me encontraria ali. Quando eles me viram, ficaram alegres e vieram em minha direção me tratando com carinho de forma que nunca tinham se aproximado de mim. Me emocionei e retribui todo o carinho com que me serviram durante todos aqueles anos. Fiquei durante alguns minutos ali, a acariciar a cabeça de cada um deles, quando percebi que devia ir, e mesmo que eles não me entendessem, fiz minha breve despedida para com eles. Sai do estabulo e encaminhei-me para a estufa de minha esposa. Ao abrir a porta e ver toda aquela variedade de cores e perfumes me perguntei: A quanto tempo não entrava ali? Me aproximei de um vaso de rosas brancas, eram tão belas que roubavam a visão de quem ali chegava, elas deviam ter um metro de altura e se sobressaia entre todas as outras flores, não havia como não admirá-la. E quando me virei, uma flor de coloração roxa me chamou a atenção, ela era pequena e miúda, mas de uma beleza inexplicável, por mais pequena que fosse, parecia mais viva e intensa do que todas as outras. E enquanto admirava-a, me toquei que já havia passado muito tempo ali. Ao chegar à porta, dei uma ultima olhada para toda aquelas cores e me emocionei com tanta beleza que sempre esteve exposta para quando eu quisesse admirar, porém nunca me “sobrava tempo”. Sai da estufa e caminhei pela fazenda. Percebi que durante toda a minha vida havia vivido ali, porém nunca consegui ter os olhos que estava tendo hoje, com tanta precisão em perceber os detalhes das pequenas coisas que sempre passaram despercebidas.  Andei por uma trilha, e passei por entre as plantações e os pastos cheios de gado, e ambos tinha uma cor diferente aos meus olhos agora. Caminhei durante mais ou menos uma hora até chegar no lugar que tanto me trazia prazer naquela fazenda inteira : a cachoeira. Me aproximei com todo o cuidado, pisando devagar em cada pedra lisa que ficava em torno do rio. Molhei meus pés na água fria e senti minúsculos peixes me beliscarem. Andei dentro da água até, lentamente deitar-me sobre ela, e percebi que pela primeira vez eu flutuava, foi uma sensação relaxante que se fez em meu corpo, não pude contar o relaxamento dos músculos tirando toda a tenção que me dominava antes. O sol batia em meus olhos fazendo-me fechá-los, e, com os olhos fechados pude melhor ouvir os passarinhos cantarem sobre as arvores, melodias encantadores e todos em sincronia. Desejei que aquele momento nunca acabasse. O cheiro de mata me fez lembrar de todas as outras vezes que estive ali. Permaneci durante uma hora ali. Foi quando o sol começou a bater com menor intensidade em meus olhos, e percebi que nuvens começavam a tampar-lhe. Levantei-me e fui saindo da mata fechada, mas quando me distanciava, olhei uma ultima vez para trás e me despedi daquele local tão prazeroso que eu não mais voltaria a vê-lo. Quando voltava  senti uma gota cair em meu ombro direito, e outro, e outro, e logo se iniciou uma chuva forte a cair sobre mim. Não corri, apenas continuei minha caminhada. De repente senti um cheiro forte de terra molhada e meu coração foi automaticamente transportado ao meu ultimo banho de chuva, que tomara aos treze anos. Foi delicioso reviver aquele lembrança que por mais que eu não a havia lembrado durante todos aqueles anos, agora parecia real em minha mente. Cheguei ao meu recinto, e, apesar da chuva, tudo estava muito calmo. Fui até o quarto de Clarice e eu, e as lembranças de nossos momentos de amor ali vieram todos à tona, a senti ao meu lado naquele instante, e se não fosse a morte tê-la levado a seis meses atrás, ela poderia estar ali, relembrando junto a mim. E então não me senti só, sim, ela estava ali, observando cada gesto meu, cada libertação de sentimentos aprisionados que eu nunca havia permitido que viessem à tona um só dia. As lágrimas escorreram sobre minha face, e senti suas delicadas mais a acariciarem meu rosto, já envelhecido pelo tempo. Ela estava a me abraçar e eu pude sentir seu calor novamente, e então, como em um sussurro, a disse sorrindo: “ logo estarei com você, meu amor”  e, não sei se era fruto da minha imaginação, mas pude vê-la sorrindo para mim, com um satisfação imensa com a minha noticia, que ela parecia já saber. Após alguns instantes comoventes então ao lado dela, me desloquei até a varanda, e sentei-me. Fiquei a admirar cada detalhe daquele lugar. Olhei no relógio, ele marcava 2:35 p.m. Então senti meus dedos começarem a formigar, minha pernas eu não mais sentia, entrei em desespero, mas Clarice veio e segurou minhas mãos, então acalmei-me. Percebi meu coração fraco e então, ele não bombeava mais sangue. Minha mente foi se escurecendo, e eu senti a leveza em meu corpo. Agora eu o via sentado na cadeira de fio da varanda, como se dormisse. E um clarão se fez atrás de mim, e lá estava Clarice, com os braços estendidos, me chamando, para que eu fosse ao encontro dela, teus olhos choravam porém teus lábios sorriam de forma encantadora. Fui ao encontro dela, fui ao encontro do meu amor.




Escrevi este texto a algum tempo atrás, e confesso que esqueci dele. Então ao lê-lo, resolvi postar para vocês. (:

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles - Retrato

Eu simplesmente adoro este poema da Cecília, então resolvi compartilha-lo com vocês. *-*

Scars and Souvenirs


“Eu respiro tentando encher os pulmões de vida, mas ainda é dificil deixar qualquer luz entrar.” ( 50 receitas – Leoni )

Minha voz estava fraca, e eu podia ouvir meu coração gritar. Não haviam alternativas, eu estava só, enquanto meus fantasmas me tiravam o sono. Tua imagem me vinha, e soluços tiravam o silêncio do quarto.“Você vai conseguir me esquecer!” e parecia que podia vê-lo ainda a dar-me as costas, a esmagar meus sentimentos. E fui forçada a crescer só, contra minha vontade. A cada dia, meu coração reagia com dificuldade, e muitas das vezes recaia perante aquelas lembranças angustiantes. E quando menos esperei, você reapareceu, após tantas noites de dor que passei tentando reconstruir o que restou do meu coração, e você, pensou que eu ainda podia ama-lo, que podia quere-lo, tentou apagar o passado, mas ele ainda estava vivo em minha mente, e friamente o disse: “Você não pode partir um coração partido, não novamente” e me permiti deixa-lo, e eu sabia, que não surtiriam efeito algum naquele ser insensivel, eu sabia que ele só me queria por uma noite ou outra, mas algo eu estava certa em dizê-lo, mesmo que esmagasse novamente, a dor seria a mesma que permaneceu durante todos estes anos, e dor por dor, meu ser estaria esgotado da mesma forma. Eu tento ainda resgatar o que houve de bom, mas o medo do coração de novas feridas fala mais alto, e permaneço sem luz, sem afeto, em meio aos meus fantasmas.

Ana Paula Ribeiro.

Pauta para a 55º Edição Musical do Bloínquês,cujo tema é : Você não pode partir um coração partido. (You can't break a broken heart - Kate Voegele)